Nesta entrada afirmei que só existiam cinco poliedros regulares convexos, com faces iguais, os chamados sólidos platónicos, cuja justificação se podia deduzir da relação de Euler. Mas é preciso estabelecer condições adicionais que estes sólidos verificam. É o que explico a seguir, na chamada prova topológica.
A equação que relaciona o número de faces , vértices e arestas de um poliedro
, (1)
aplicada ao cubo ( faces, vértices, arestas), traduz-se na igualdade
e, aplicada ao tetraedro, que é uma pirâmide equilátera ( faces, vértices, arestas), em
.
Num poliedro regular convexo (um segmento de recta que una quaisquer dois dos seus pontos não sai para fora do poliedro), em que cada face tem lados iguais, se multiplicar o número de faces por estes lados, conto as arestas duas vezes. Porquê? Porque cada aresta é a intersecção de duas faces adjacentes. No caso do cubo, em que as faces são quadrados () isto traduz-se em:
.
Para o tetraedro, cujas faces são triângulos equiláteros ( lados), pelo mesmo motivo, se multiplicar o número de faces por estes lados , obtenho
.
No caso geral de um poliedro regular convexo, em que cada face tem lados iguais, devido à dupla contagem será então:
.
Voltando ao cubo, em que cada vértice é o ponto de encontro de arestas, se multiplicar agora o número de vértices por estas arestas, obtenho o dobro do número de arestas, porque também estou a contar cada aresta duas vezes, em virtude de cada aresta unir dois vértives:
.
Fazendo o mesmo para o tetraedro, , obtenho, pelo mesmo motivo
.
O caso geral, em que cada vértice de um poliedro regular convexo é o ponto de encontro de arestas, traduz-se em
.
Assim, um poliedro regular convexo verifica a dupla igualdade
, (2)
em que é o número inteiro de lados de cada face poligonal e o número inteiro de arestas que se intersectam em cada vértice, pelo que a equação (1) é equivalente a
ou a
. (3)
Esta equação corresponde, no caso particular do cubo a
e no do tetraedro a
.
Mas há duas restrições aos possíveis valores inteiros de e : uma, em virtude do número de arestas ser positivo, é
(4)
e a outra, porque o poliedro é um sólido tridimensional,
. (5)
O número de lados de cada face define a sua forma poligonal: para é o triângulo equilátero, , o quadrado, , o pentágono regular. Será que num poliedro regular convexo poderá ser igual a ? Vamos ver que não.
Para a equação (3) assume o valor particular
.
e, pela restrição (4)
conclui-se que . Os dois casos vistos acima são o tetraedro, que corresponde a e o cubo, a . Para , vem
donde , e . Este poliedro regular com faces é o conhecido dodecaedro.
Para , a mesma equação (3) passa a ser
e agora a restrição (4),
,
isto é, . O número de arestas, vértices e faces são, respectivamente, , e . É o octaedro, com oito faces que são triângulos equiláteros.
Para , (3) é a equação
e a condição (4)
logo, é também . O número de arestas, vértices e faces são, respectivamente, , e . É o icosaedro, com vinte faces que são triângulos equiláteros.
Para , a primeira forma de (4)
permite estabelecer
o que contraria a restrição
(5). Isto prova que e que só há os cinco sólidos platónicos atrás referidos.